Manifestantes quilombolas ocupam sede do Iterma
Representantes de comunidades negras acampam no Iterma para cobrar celeridade nos processos de desapropriação de terra. Cem deles estariam engavetados há 20 anos.
O Tambor de Crioula – ou punga – é uma dança que expressa a origem africana do povo brasileiro e foi desenvolvida para celebrar o sucesso de fugas de negros quando, fugidos do regime escravo, refugiavam-se no mato, escapando do ritmo desumano de trabalho. Ontem (19), um resgate desse passado e um paralelo com a realidade atual que as comunidades quilombolas enfrentam no Maranhão foi estabelecido quando os membros do movimento ocuparam o auditório do Instituto de Colonização e Terras do Maranhão (Iterma) com a dança.
Acampados no Iterma desde a tarde de segunda-feira (18), o movimento quilombola manifesta-se principalmente contra a estagnação de processos de desapropriação de terra. Segundo os líderes do movimento, mais de 100 desses processos estariam há mais de 20 anos engavetados .
O presidente do Iterma, Luiz Alfredo Soares da Fonseca, por sua vez, afirma que todas as medidas que cabiam ao órgão já foram tomadas desde o ano passado, seguindo um planejamento que beneficiou mais de 3.600 famílias, através da entrega de 60 processos de desapropriação que titularam 36 comunidades. Ao ter a veracidade dos dados questionada pelos manifestantes, Luiz Fonseca estabeleceu o compromisso de entregar relatório aos líderes do movimento quilombola com o nome dessas comunidades no fim da tarde da terça-feira, juntamente com Fernando Fialho, secretário de Estado do Desenvolvimento Social e Agricultura Familiar, porém os manifestantes recusaram-se a recebê-lo sem a apresentação de um posicionamento mais concreto por parte do Iterma e, também, do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Vale lembrar que os servidores do Incra, entretanto, decidiram em assembléia na manhã da segunda-feira iniciar greve por tempo indeterminado. A vice-presidente da Associação dos Servidores do Incra, Hulda Rocha e Silva, apontou a insuficiência de pessoal e recursos humanos como motivo da reivindicação. “A reforma agrária não é prioridade do governo federal”, revelou Hulda.
A segurança no campo também era pauta de reivindicação dos quilombolas. Manoel Santana dos Santos, o Manoel do Charco, informou que a violência e casos de pistolagem ainda são comuns na resolução de questões fundiárias. Dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) confirmam o Maranhão como o estado com o maior índice de violência no campo: 286 áreas de conflito pela posse da terra, sete pessoas assassinadas em 2011 e três em 2012; 106 estão ameaçadas de morte e nenhuma proteção policial é disponibilizada.